Há um bom tempo, tenho refletido sobre o poder da predisposição nos relacionamentos. Não falo de preconceito, pois este é uma pré configuração negativa para com pessoas e grupos que nós nem conhecemos. Falo da predisposição que temos para com os amigos, conhecidos e familiares. Esta pré-configuração personalizada que desenvolvemos ao nos relacionar com o próximo. Ela pode ser positiva ou negativa, mas nunca neutra. Para algumas pessoas, temos uma predisposição positiva, ou seja, tudo que ela falar ou fizer é interpretado da melhor forma possível, pois seus antecedentes são positivos em nossa memória. Já para outros, nossa predisposição é negativa. Tudo que eles fizerem será interpretado da pior forma possível, ao ponto de recebermos até um elogio como uma crítica velada ou como falsidade.
Há também a percepção da predisposição dos outros, quanto a nós. Nas relações com nossos amigos construímos uma ideia de predisposição que o outro tem sobre nós. Para alguns, nossas palavras parecem carregadas de positividade e nos sentimos bem ao perceber sua empatia, que pode ser comparada a um bom perfume no ar. Já para outros, qualquer coisa que façamos parece ser errado, contrário e carregado de negatividade. Obviamente, nos sentimos muito mal ao perceber isso, mesmo entendendo que é só uma percepção e que isso pode não corresponder aos reais sentimentos do outro. Mas o fato é que, com o passar dos anos, nos tornamos peritos em ler entrelinhas, revelar silêncios e sentir maus odores de antipatia.
Fui além e passei a refletir sobre como formulamos nossa predisposição quanto a Deus. Construímos essa predisposição não só à partir daquilo que aprendemos teoricamente sobre Ele, mas também por meio das experiências negativas ou positivas que creditamos a Ele. Em alguns momentos, o vemos como nosso pai e protetor. Já em outros, o percebemos como um parente distante e indiferente. Da mesma forma, também construímos uma percepção da predisposição de Deus quanto a nós. Em algumas épocas da vida, nos sentimos os mais queridos dos filhos. Em outros momentos, nos sentimos como filhos desamparados. Por conta destas oscilantes percepções, muitas vezes nos julgamos como instáveis e fracos na fé.
Porém, ao ler o texto bíblico acima, percebi como Moisés ansiava saber qual era a predisposição de Deus quanto a sua vida – Se me vês com agrado… – diz ele, com o desejo de obter um retorno, uma confirmação de que Deus ainda mantém uma predisposição positiva quanto a ele. Moisés deseja saber se ainda há empatia, se ainda há um bom grado de Deus por sua vida. Qualquer fiel que tenha passado por uma experiência de sofrimento, sabe exatamente o gosto do anseio de Moisés. Qualquer fiel gostaria de ouvir Deus confirmar, em alto e bom som: “Farei o que me pede, porque tenho me agradado de você…”.
A despeito de nossa fé instável, a despeito de todas as percepções e predisposições negativas presentes em nossa mente e em nossas relações interpessoais, nós, cristãos, olhamos para Cristo, certos de que por sua vinda e seu sacrifício, o Pai sussurra constantemente em nossos ouvidos: “Tenho me agradado de você e o conheço pelo nome”. Que este sussurro seja suficiente em nosso coração. Que esta certeza também nos ajude a transformar nossa predisposição negativa quanto ao próximo. Que possamos olhar para o outro, não pelas lentes das nossas predisposições imperfeitas, mas pelas lentes perfeitas do amor de Deus, pois Ele nos vê com agrado.
Em Cristo,
Transformai-vos!
Cara, muito bom! Obrigado pelos emails, cheguei nesse post por um email seu.. Gostei, muito mesmo! Sempre me identifico com seus textos, são muito práticos e cheios de Bíblia. Um abraço, que Deus continue usando sua vida!